Carne de Laboratório para Pets: Inovação Sustentável ou Polêmica?

O mercado pet do Reino Unido acaba de receber uma novidade revolucionária: um petisco feito com carne cultivada em laboratório. Criado pela startup londrina Meatly, esse produto é considerado o primeiro alimento para animais de estimação que utiliza carne desenvolvida sem necessidade de abate.
O petisco, chamado “Chick Bites”, é composto por ingredientes vegetais e 4% de carne de frango cultivada. O processo de produção começa com a coleta de uma pequena amostra de células de um ovo de galinha, que são cultivadas em um biorreator com água e nutrientes. Em poucas semanas, as células se multiplicam, formando um composto proteico que consome menos recursos naturais e reduz a pegada de carbono em comparação à produção convencional de carne.
Segundo o fundador da Meatly, os alimentos para pets representam cerca de 20% da carne consumida globalmente. A empresa aposta na carne cultivada como uma solução mais sustentável para atender à crescente demanda do setor pet sem sobrecarregar os recursos naturais.
Inicialmente, os snacks “Chick Bites” serão vendidos apenas em uma unidade da rede Pets at Home, em Londres, pelo preço de £3,49 (aproximadamente R$ 20) a embalagem de 50 gramas. No entanto, a empresa planeja expandir a distribuição conforme a capacidade de produção aumentar.
Carne Cultivada: O Futuro da Alimentação?
Apesar do crescente interesse por alternativas à carne tradicional, a carne cultivada ainda enfrenta desafios. Diferente dos produtos à base de plantas, que utilizam proteínas vegetais para simular sabor e textura, ou dos alimentos obtidos por fermentação de micro-organismos, a carne cultivada tem a mesma composição biológica da carne animal.
Atualmente, poucos países permitem a comercialização desse tipo de carne. Singapura foi pioneira em 2020, seguida pelos Estados Unidos em 2023 e Israel em 2024. Em contrapartida, estados como Flórida e Alabama, nos EUA, proibiram sua venda, e a Itália vetou a comercialização em 2023, embora a medida ainda esteja em discussão na União Europeia.
A produção da Meatly permite que, a partir de uma única amostra celular, seja gerada carne de forma contínua. O resultado é um material com textura semelhante a um patê de frango e valor nutricional equivalente ao da carne convencional, sem esteroides, hormônios ou antibacterianos. Além disso, a produção consome entre 50% e 60% menos terra, 30% a 40% menos água e reduz as emissões de CO2 em cerca de 40%.
Atualmente, a startup opera com biorreatores de 50 litros, mas tem planos para aumentar a capacidade para unidades de 20 mil litros. Testes indicaram alta aceitação pelos cães, que demonstraram preferência pelos snacks em relação às rações convencionais.
O Mercado Pet como Laboratório para o Futuro
A Meatly acredita que o mercado pet pode ser uma porta de entrada para acostumar os consumidores à ideia da carne cultivada. A empresa também participa de um projeto da Agência de Padrões Alimentares do Reino Unido, que busca regulamentar a comercialização desse tipo de carne para consumo humano. Apesar de a tecnologia ser considerada segura, a falta de regulamentação ainda impede sua ampla adoção.
O tema segue polêmico, pois a expansão da carne cultivada enfrenta desafios como barreiras regulatórias, altos custos de produção e resistência do público, que ainda percebe esse tipo de produto como artificial. Enquanto cientistas e empresas trabalham para torná-lo mais acessível e ambientalmente viável, o debate sobre segurança alimentar, impacto econômico e sustentabilidade continua aberto.